Os oceanos cobrem mais de 70% da superfície da Terra e contêm 97% de toda a água do planeta. Eles influenciam o clima e as condições meteorológicas, estabilizam a temperatura, moldam a química terrestre e providenciam um lar para a maior diversidade de espécies do planeta. Cada molécula de oxigénio que respiramos, cada gota de água que bebemos, cada alimento que ingerimos, liga-nos ao oceano, quer vivamos numa zona costeira ou no mais remoto e inóspito ponto interior do globo. Pensa-se que as primeiras formas de vida se desenvolveram no oceano, ainda na ausência de oxigénio, e que a maior parte do oxigénio na atmosfera resultou, originalmente, das ações de organismos fotossintéticos no oceano. Ou seja, foi o oceano que permitiu, e ainda é o oceano que permite, que a Terra seja habitável. Como costuma resumir a oceanógrafa americana Sylvia Earle, maior referência mundial nos oceanos e na vida marinha,‘sem azul, não há verde’. Porque a chave para a existência da vida é a água, e a água é 97% oceanos. Foram precisos cerca de 4,5 mil milhões de anos para que a Terra reunisse todas as condições para nos acolher. Mas demorámos apenas 4,5 décadas a consumir, esgotar e alterar significativamente os seus sistemas altamente delicados, essenciais à nossa própria sobrevivência. A segunda metade do século XX foi dramática para os “ativos” do planeta. O oceano, que é o sistema circulatório da Terra, está entupido com centenas de milhões de toneladas de plástico e outro lixo, o que, em conjunto com a pesca industrial, retira de cena centenas de milhões de animais selvagens, prejudicando as cadeias alimentares que moldam a química do planeta e influenciam o ciclo do carbono, o ciclo do nitrogénio, o ciclo do oxigénio, o ciclo da água, ou seja, o nosso sistema de apoio à vida. Neste período, perdemos – ou melhor, tirámos e consumimos – mais de 90% de grandes espécies marinhas, como o atum e o peixe-espada. As barreiras de coral estão a desaparecer. E a saúde do oceano ressente-se, com consequências diretas na saúde do planeta e, claro, na da humanidade. Os oceanos exercem um controlo fundamental sobre o clima e as condições meteorológicas. Transportam energia e dominam os ciclos da água e do carbono, atenuando as oscilações de temperatura e mantendo a estabilidade da composição da atmosfera. Uma grande parte do papel dos oceanos é absorver energia (calor), distribuindo-a pela Terra de forma mais uniforme. Uns poucos metros da superfície dos oceanos armazenam tanto calor quanto toda a atmosfera da Terra. Assim, à medida que o planeta aquece, é o oceano que recebe a maior parte da energia extra. E isto tem implicações no equilíbrio dos ecossistemas: quando o oceano vai ficando demasiado quente, a vida que nele habita é forçada a adaptar-se… ou morrer. Os peixes e outros animais marinhos respiram oxigénio e libertam dióxido de carbono, tal como os animais terrestres. E as plantas marinhas absorvem dióxido de carbono e libertam oxigénio, também tal como as plantas terrestres (aliás, as algas marinhas são responsáveis pela produção de grande parte do oxigénio que respiramos). Mas a absorção de CO2 é outra função vital dos oceanos, conseguida através de um engenhoso sistema de aspiração, mistura e retenção. O oceano absorve dióxido de carbono da atmosfera sempre que o ar encontra a água. Depois, o vento causa ondas e turbulência, ajudando o CO2 a misturar-se à superfície e a ir penetrando em águas mais profundas, dando oportunidade para que a água absorva o dióxido de carbono. Devemos aos oceanos a absorção de cerca de um quarto do CO2 que emitimos. E como não paramos de emitir, os oceanos estão a pagar o preço, vendo a sua química alterada e a sua água mais ácida. Está na hora de retribuirmos e abraçarmos esta causa. Porque, voltando às palavras sábias da oceanógrafa Sylvia Earle, nada mais importará se falharmos na proteção dos oceanos. Contudo, temos um outro ponto de atenção fundamental em uma das agendas que promovemos dentro do Pacto Global: a gestão dos recursos hídricos liderada pelo setor empresarial. No último levantamento feito pelo Observatório 2030, uma iniciativa do Pacto Global da ONU no Brasil, a partir de dados de 82 empresas listadas na B3, participantes da nossa Rede como um todo, e que reportam os resultados nos padrões do Global Reporting Initiative (GRI), nos deixou preocupado: 59 empresas, das 82, relataram não mensurar os riscos de escassez hídrica do ponto de vista da quantidade disponível de água. E mais, quando se analisa os riscos do ponto de vista da qualidade de água, o número sobe para 67 empresas que não consideram. A cadeia de valor, em relação ao uso racional da água, não é considerada no engajamento de 83% das empresas. A segurança hídrica é um dos pilares quando se discute adaptação climática. Ao ver que o Brasil tem como base da matriz energética as hidrelétricas, ou seja, precisamos dos recursos hídricos para gerar energia. E nossa agricultura é uma das que mais exportam para o mundo e é altamente dependente da água para irrigação. O Manual de Usos Consuntivos da Água no Brasil – Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA), de 2019, mostrou que 52% da demanda do uso da água do Brasil vem da irrigação da agricultura. Logo em seguida, com 24% da demanda do uso, temos o abastecimento urbano. Quando falamos de 2030, ainda há outro dado preocupante: o uso da água deve crescer em 24% até lá. Não esqueçamos que em 2021 passamos pela pior crise hídrica em 91 anos que afetou diretamente os reservatórios que abastecem as hidroelétricas. ou seja, precisamos dos recursos hídricos para gerar energia. E nossa agricultura é uma das que mais exportam para o mundo e é altamente dependente da água para irrigação. O Manual de Usos Consuntivos da Água no Brasil – Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA), de 2019, mostrou que 52% da demanda do uso da água do Brasil vem da irrigação da agricultura. Logo em seguida, com 24% da demanda do uso, temos o abastecimento urbano.